Queridos amigos , por conta de compromissos assumidos em 2012, ficarei afastado deste blog até 10 de outubro deste ano, espero revê-los por aqui novamente depois desta data. Saudações Fraternas a todos e que Deus abençõe a cada um de maneira especial. Até breve.....
" R O D O L F O "
"Credibilidade não se compra, se conquista". Aqui dedico artigos e sonhos por uma "FELIZ CIDADE"
terça-feira, 3 de abril de 2012
terça-feira, 27 de março de 2012
SOBRE A DESFAÇATEZ, OU SOBRE DEMÓSTENES
"...O que começou pequeno, com o Bloco da Mentira, foi ganhando corpo até se transformar na Escola de Samba Unidos da Desfaçatez.(...) De nada adianta se fantasiar de ovelha se, quando abre a boca, mostra as presas de lobo (...)Exige-se apenas a verdade, não precisa mutilar suas ideias, sacrificar-se intimamente (...) Não representa desvio de caráter defender diante das câmeras o que professa entre quatro paredes - o defeito é mentir" . Os trechos são de autoria do ex-líder dos demos no Senado, Demóstenes Torres, em artigo publicado originalmente no "blog do Noblat", em 22-02--2012. Nessa data, o Savonarola-mór da oposição demotucana, um dos mais aguerridos acusadores do governo no episódio convencionado como 'mensalão', já havia trocado 298 telefonemas com o bicheiro Carlinhos Cachoeira, em aparelho blindado presenteado pelo próprio, e cerca de 200 ligações com alta direção da revista Veja. Esta, por razões que o tempo dirá, resolveu fritá-lo por antecipação, como quem frita um arquivo, em consonância com o que tem feito também o jornal 'O Globo'. Contra centurião, agora jogado ao mar por seus pares afoitos, pesa, ademais, a suspeita de abiscoitar 30% dos lucros do bicheiro mencionado, de quem ganhou mimos no casamento e a cuja carteira recorria até para despesas de pequenos deslocamentos aéreos. Em seu blog, Demóstenes apresenta-se como ' presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), " a mais importante do Senado", e da Comissão que está reescrevendo o Código de Processo Penal; e sentencia altaneiro: "Demóstenes participou de diversas CPIs e não deixou acabar em pizza as que foi relator (...) Demóstenes é o parlamentar que mais combate a corrupção no Brasil". No arremate, o carrilhão autobiográfico badala: "No último mês de dezembro, a Revista Época divulgou uma lista em que o senador Demóstenes Torres foi apontado como uma das 100 personalidades mais influentes do país" (Leia mais sobre o assunto nesta pág. e no Blog das Frases: "Demóstenes: o importante é a causa; e a causa é Serra derrotar o PT em SP').
segunda-feira, 19 de março de 2012
Para refletir.
O Ministério Público Federal de São Paulo ajuizou ação pedindo a retirada dos símbolos religiosas das repartições publicas.
Pois bem, veja o que diz o Frade Demetrius dos Santos Silva.
Sou Padre católico e concordo plenamente com o Ministério Público de São Paulo, por querer retirar os símbolos religiosos das repartições públicas…
Nosso Estado é laico e não deve favorecer esta ou aquela religião. A Cruz deve ser retirada!
Aliás, nunca gostei de ver a Cruz em Tribunais, onde os pobres têm menos direitos que os ricos e onde sentenças são barganhadas, vendidas e compradas.
Não quero mais ver a Cruz nas Câmaras legislativas, onde a corrupção é a moeda mais forte.
Não quero ver, também, a Cruz em delegacias, cadeias e quartéis, onde os pequenos são constrangidos e torturados.
Não quero ver, muito menos, a Cruz em prontos-socorros e hospitais, onde pessoas pobres morrem sem atendimento.
É preciso retirar a Cruz das repartições públicas, porque Cristo não abençoa a sórdida política brasileira, causa das desgraças, das misérias e sofrimentos dos pequenos, dos pobres e dos menos favorecidos.
Frade Demetrius dos Santos Silva.
* São Paulo/SP
terça-feira, 6 de março de 2012
"Bondade"
Efigênia Coutinho
Hoje tive vontade de falar da "BONDADE" gostaria de falar a vocês sobre a importância da bondade, ela rege nossas relações com a verdade. O que é ser Bom? é um fato, um ato, é a conformidade dos atos e atitudes e das palavras com a vida interior, ou consigo mesmo diante do mundo.
Bondade é crença fiel, e fidelidade no que se fez e se faz. Pelo menos enquanto se crê que seja verdade. A Bondade, é uma sinceridade ao mesmo tempo transitiva e reflexiva. Ela rege nossas relações tanto com outrem como conosco mesmos. Ela deseja, entre todos os homens como dentro de cada um deles, o máximo de bondade possível, e de autenticidade passível, e o mínimo, em conseqüências, de artifícios ou dissimulações. A Bondade é esse esforço rico da alma humana, é básico. Uma vez nascido assim, não se poderá mudar, mas melhorar. A Bondade; dizia La Rochefoucauld, "é uma abertura de coração que nos mostra tais como somos; é amor'ao BOM, uma repugnância a se disfarçar, um desejo de reparar seus defeitos até diminui-los, pelo mérito de confessa-los." A Bondade como toda e qualquer virtude, é o contrario do narcisismo, do egoísmo cego, da submissão de si mesmo!
E, por intermédio disso, que ela "bondade" tem a ver com a humildade, a coragem e a justiça divina! E pensa-la em sua geanidade, a "bondade"nada mais é que o Amor ao Próximo. É por isso que ela torna-se uma virtude filosófica por excelência. Mas também sabe, ou crê saber, que a caridade sem a bondade, não passa de uma mentira! A Bondade só vale para os verídicos, que a amam! O Amor é, pois primeiro? Sim, mas apenas se verdadeiro; primeiro no valor, pois, e segundo no ser...Por isso a BONDADE leva aos bons sentimentos!
SEJAMOS BONS!
quinta-feira, 1 de março de 2012
Perfil do corrupto.
Manifestações públicas em várias cidades exigem o fim do voto secreto no Congresso; o direito de o CNJ investigar e punir juízes; a vigência da Ficha Limpa nas eleições de 2012; e o combate à corrupção na política.
Por que há tanta corrupção no Brasil? Temos leis, sistema judiciário, polícias e mídia atenta. Prevalece, entretanto, a impunidade – a mãe dos corruptos. Você conhece um notório corrupto brasileiro? Foi processado e está na cadeia?
O corrupto não se admite como tal. Esperto, age movido pela ambição de dinheiro. Não é propriamente um ladrão. Antes, trata-se de um requintado chantagista, desses de conversa frouxa, sorriso amável, salamaleques gentis. Anzol sem isca peixe não belisca.
O corrupto não se expõe; extorque. Considera a comissão um direito; a porcentagem, pagamento por serviços; o desvio, forma de apropriar-se do que lhe pertence; o caixa dois, investimento eleitoral. Bobos aqueles que fazem tráfico de influência sem tirar proveito.
Há vários tipos de corruptos. O corrupto oficial se vale da função pública para extrair vantagens a si, à família e aos amigos. Troca a placa do carro, embarca a mulher com passagem custeada pelo erário, usa cartão de crédito debitável no orçamento do Estado, faz gastos e obriga o contribuinte a pagar. Considera natural o superfaturamento, a ausência de licitação, a concorrência com cartas marcadas.
Sua lógica é corrupta: "Se não aproveito, outro sai no lucro em meu lugar". Seu único temor é ser apanhado em flagrante. Não se envergonha de se olhar no espelho, apenas teme ver o nome estampado nos jornais e a cara na TV.
O corrupto não tem escrúpulo em dar ou receber caixas de uísque no Natal, presentes caros de fornecedores ou patrocinar férias de juízes. Afrouxam-no com agrados e, assim, ele relaxa a burocracia que retém as verbas públicas.
Há o corrupto privado. Jamais menciona quantias, tão somente insinua. É o rei da metáfora. Nunca é direto. Fala em circunlóquios, seguro de que o interlocutor sabe ler nas entrelinhas.
O corrupto “franciscano” pratica o toma lá, dá cá. Seu lema: "quem não chora, não mama". Não ostenta riquezas, não viaja ao exterior, faz-se de pobretão para melhor encobrir a maracutaia. É o primeiro a indignar-se quando o assunto é a corrupção.
O corrupto exibido gasta o que não ganha, constrói mansões, enche o pasto de bois, convencido de que puxa-saquismo é amizade e sorriso cúmplice, cegueira.
O corrupto cúmplice assiste ao vídeo da deputada embolsando propina escusa e ainda finge não acreditar no que vê. E a absolve para, mais tarde, ser também absolvido.
O corrupto previdente fica de olho na Copa do Mundo, em 2014, e nas Olimpíadas do Rio, em 2016. Sabe que os jogos Pan-americanos no Rio, em 2007, orçados em R$ 800 milhões, consumiram R$ 4 bilhões.
O corrupto não sorri, agrada; não cumprimenta, estende a mão; não elogia, incensa; não possui valores, apenas saldo bancário. De tal modo se corrompe que nem mais percebe que é um corrupto. Julga-se um negocista bem-sucedido.
Melífluo, o corrupto é cheio de dedos, encosta-se nos honestos para se lhe aproveitar a sombra, trata os subalternos com uma dureza que o faz parecer o mais íntegro dos seres humanos.
Enquanto os corruptos brasileiros não vão para a cadeia, ao menos nós, eleitores, ano que vem podemos impedi-los de serem eleitos para funções públicas.
Frei Betto é escritor ne assessor de movimentos sociais, autor do romance “Minas do Ouro” (Rocco), entre outros livros. http://www.freibetto.org/> twitter:@freibetto
sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012
Base de gás de Caraguá, a riqueza é nossa.
Por Rodolfo Fernandes
Quando a Petrobrás anunciou que a base de gás iria ser instalada em Caraguatatuba, deu ponto final numa das mais acirradas e silenciosas disputas políticas travadas nos bastidores do poder. O PT, enquanto partido que governa o país fez a sua parte trabalhando para que a base ficasse em Caraguá.
Hoje a base de gás é uma realidade e em pouco tempo estará funcionando plenamente.
As informações dão conta de que Caraguá arrecadará em torno de 500 milhões de reais por ano com a Petrobras aqui instalada, o que deve elevar o orçamento do município para em torno de 800 milhões ano.
A pergunta que fica é: Quem deve administrar este gigantesco orçamento que poderá mudar radicalmente a vida de todos os moradores da cidade ou enriquecer alguns poucos do poder?
Podem ser os mesmos que estão no poder em Caraguá a mais de 20 anos e que tentaram um dia vender a PETROBRAS a preço de banana ou alguém que sempre lutou para que a PETROBRAS fosse nossa, do povo brasileiro, como é o caso do nosso PT DE CARAGUÁ.
Para que o dinheiro vindo da PETROBRAS seja realmente aplicado a favor do povo é preciso que tenhamos a coragem de tirar os velhos políticos do poder em Caraguá e começarmos a pensar em um prefeito com mandato popular e participativo, para não corrermos o risco de os ricos ficarem mais ricos e o povo mais pobre.
Você está com a palavra em 2012.
terça-feira, 14 de fevereiro de 2012
Os Gays e a Biblia. Uma reflexão.
Frei Betto
É no mínimo surpreendente constatar as pressões sobre o Senado para evitar a lei que criminaliza a homofobia. Sofrem de amnésia os que insistem em segregar, discriminar, satanizar e condenar os casais homoafetivos.
No tempo de Jesus, os segregados eram os pagãos, os doentes, os que exerciam determinadas atividades profissionais, como açougueiros e fiscais de renda. Com todos esses Jesus teve uma atitude inclusiva. Mais tarde, vitimizaram indígenas, negros, hereges e judeus. Hoje, homossexuais, muçulmanos e migrantes pobres (incluídas as “pessoas diferenciadas”...).
Relações entre pessoas do mesmo sexo ainda são ilegais em mais de 80 nações. Em alguns países islâmicos elas são punidas com castigos físicos ou pena de morte (Arábia Saudita, Irã, Emirados Árabes Unidos, Iêmen, Nigéria etc).
No 60º aniversário da Decclaração Universal dos Direitos Humanos, em 2008, 27 países membros da União Europeia assinaram resolução à ONU pela “despenalização universal da homossexualidade”.
A Igreja Católica deu um pequeno passo adiante ao incluir no seu Catecismo a exigência de se evitar qualquer discriminação a homossexuais. No entanto, silenciam as autoridades eclesiásticas quando se trata de se pronunciar contra a homofobia. E, no entanto, se escutou sua discordância à decisão do STF ao aprovar o direito de união civil dos homoafetivos.
Ninguém escolhe ser homo ou heterossexual. A pessoa nasce assim. E, à luz do Evangelho, a Igreja não tem o direito de encarar ninguém como homo ou hétero, e sim como filho de Deus, chamado à comunhão com Ele e com o próximo, destinatário da graça divina.
São alarmantes os índices de agressões e assassinatos de homossexuais no Brasil. A urgência de uma lei contra a homofobia não se justifica apenas pela violência física sofrida por travestis, transexuais, lésbicas etc. Mais grave é a violência simbólica, que instaura procedimento social e fomenta a cultura da satanização.
A Igreja Católica já não condena homossexuais, mas impede que eles manifestem o seu amor por pessoas do mesmo sexo. Ora, todo amor não decorre de Deus? Não diz a Carta de João (I,7) que “quem ama conhece a Deus” (observe que João não diz que quem conhece a Deus ama...).
Por que fingir ignorar que o amor exige união e querer que essa união permaneça à margem da lei? No matrimônio são os noivos os verdadeiros ministros. E não o padre, como muitos imaginam. Pode a teologia negar a essencial sacramentalidade da união de duas pessoas que se amam, ainda que do mesmo sexo?
Ora, direis ouvir a Bíblia! Sim, no contexto patriarcal em que foi escrita seria estranho aprovar o homossexualismo. Mas muitas passagens o subtendem, como o amor entre Davi por Jônatas (I Samuel 18), o centurião romano interessado na cura de seu servo (Lucas 7) e os “eunucos de nascença” (Mateus 19). E a tomar a Bíblia literalmente, teríamos que passar ao fio da espada todos que professam crenças diferentes da nossa e odiar pai e mãe para verdadeiramente seguir a Jesus.
Há que passar da hermenêutica singularizadora para a hermenêutica pluralizadora. Ontem, a Igreja Católica acusava os judeus de assassinos de Jesus; condenava ao limbo crianças mortas sem batismo; considerava legítima a escravidão e censurava o empréstimo a juros. Por que excluir casais homoafetivos de direitos civis e religiosos?
Pecado é aceitar os mecanismos de exclusão e selecionar seres humanos por fatores biológicos, raciais, étnicos ou sexuais. Todos são filhos amados por Deus. Todos têm como vocação essencial amar e ser amados. A lei é feita para a pessoa, insiste Jesus, e não a pessoa para a lei.
Frei Betto é escritor e assessor de movimentos sociais, autor de “Um homem chamado Jesus” (Rocco), entre outros livros.
segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012
terça-feira, 7 de fevereiro de 2012
Algemas e Partos
Todos afirmam que o parto é um momento singular na vida da mulher. Dentro da nossa tradição brasileira, quase toda a família prepara a chegada de um ‘novo ser humano’ à terra com cuidados especiais.
Vejamos, porém, o cotidiano real das mulheres em situação prisional. Elisângela Pereira da Silva foi presa em flagrante no mês de dezembro, após furtar um chuveiro, duas bonecas e quatro frascos de xampu. No sábado (28/01) ela deu à luz no hospital estadual Professor Carlos da Silva Lacaz, em Francisco Morato. O fato é chocante, logo após o parto a presa ficou duplamente algemada à cama pelo braço e pela perna direita.
Como uma mulher detenta poderia fugir depois de uma cesariana? O mais grave, o jornal Folha de S.Paulo, em 22/11/2011, noticia: “Defensoria vai pedir indenização para presas algemadas em parto”. Portanto, este fato é recorrente.
O parto é um momento sublime na vida da mulher, o qual proporciona uma emoção tão forte, que é capaz de fazer a mãe rever a sua própria vida para poder se dedicar àquele ser frágil a quem deu a vida.
Impedir a mulher de viver toda a emoção que o parto estimula, é impedi-la de refletir sobre si mesma, sobre sua própria vida e sobre a futura vida do bebê. É algemá-la pela alma, impedindo seu crescimento interior e negando-lhe o acesso à reeducação social estabelecida na Lei de Execução Penal.
Como sempre, nossas leis são de excelência, como prega a Constituição do Estado de São Paulo, em seu Artigo 143, que a legislação penitenciária assegurará o respeito às regras da ONU.
O fato ocorrido num leito com uma parturiente algemada, além de um ato só possível a quem perdeu toda a sensibilidade para os valores dos direitos humanos, constitui no mínimo abuso de autoridade, conforme preceitua a Lei nº 4.898/65, que assim o define: “submeter pessoa sob sua guarda ou custódia a vexame ou constrangimento não autorizado”.
Constitui também uma afronta à Súmula Vinculante nº 11 do Supremo Tribunal Federal, que define apenas ser lícito o uso de algemas em caso de resistência e de fundado receio de fuga ou perigo à integridade física própria ou alheia, por parte do preso ou de terceiros justificada a excepcionalidade por escrito, sob pena de responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente ou da autoridade.
Algemar uma mulher durante o parto ou no pós-parto é também uma violação à Convenção da ONU, que estabelece 13 procedimentos para o tratamento de pessoas presas.
A Secretaria de Administração Penitenciária do Estado de São Paulo não pode mais negar o fato documentado em vídeo, ocorrido na semana passada. Cabe ao secretário e ao governador punir os funcionários envolvidos urgentemente e rever as práticas que constituem um atentado à dignidade humana e aos direitos constitucionais.
Não queremos só leis bem feitas, mas que o Estado seja o primeiro a cumpri-las. E não queremos o estado de São Paulo e o Brasil manchados por esta insanidade até aqui tolerada, se não foi autorizada.
Janete Rocha Pietá
Deputada Federal
Coordenadora da Bancada Feminina da Câmara Federal
sábado, 4 de fevereiro de 2012
terça-feira, 31 de janeiro de 2012
Cidade e qualidade de vida.
Por Frei Betto
Se considerarmos que o ser humano surgiu há cerca de 200 mil anos, a cidade é uma invenção relativamente recente. Durante milênios nossos ancestrais viveram como nômades coletores e, aos poucos, as técnicas de reprodução dos alimentos os fixaram como agricultores e pecuaristas. Havia, naquele longo período – como ainda hoje nas comunidades indígenas tribalizadas – relação direta, e até venerável, entre o ser humano e a natureza. Nossos antepassados se alimentavam sem alterar ecossistemas, biomas, biodiversidade.
Essa relação se altera com o advento das cidades. E um dos relatos mais significativos de como isso ocorreu é o episódio bíblico da Torre de Babel (Gênesis 11, 1-9), joia literária em menos de dez versículos.
Babel é semantema de Babilônia. Deriva da raiz hebraica “bil”, que significa “confundir”. Narra o texto bíblico que Javé, ao observar Babel, convenceu-se de que os humanos se fechavam em seus próprios e ambiciosos projetos, deixando de acolher os desígnios divinos. “Isso é o começo de suas iniciativas!” – disse o Senhor. “Agora nenhum projeto será irrealizável para eles.”
Segundo o autor bíblico, após o Dilúvio “todos se serviam da mesma língua e das mesmas palavras.” Não havia diversidade de enfoques e opiniões. O ponto de vista de um – o cacique, o chefe do clã, enfim, o poderoso -, era o ponto de vista de todos. E a atividade agropastoril igualava as pessoas.
A invenção do tijolo e da argamassa provoca um movimento migratório do campo para a urbe. Os humanos decidem “construir uma cidade” – Babel.
O versículo 4 registra as propostas de construção da cidade e da torre, e destaca o principal motivo de tal empreitada: “Para ficarmos famosos e não nos dispersarmos pela face da Terra.” Não se tratava de obter felicidade, bem-estar, bênçãos divinas. Importava a fama, possuir um nome sobreposto aos demais, e permanecer segregado, seguro.
A revolução tecnológica representada pelo tijolo (insuperado até hoje) imprime aos humanos a consciência de que não estão mais condicionados pela natureza. A relação se inverte. Agora é o ser humano que condiciona a natureza. Transforma-a em artefato.
Desprendido do ciclo da natureza, o ser humano já não funda sua identidade nos vínculos comunitários da sociedade agrária. Sua consciência se personaliza, ele se torna senhor do próprio destino, livre das mutações ecológicas que antes criavam nele a sensação de fatalidade e de temporalidade cíclica.
Tais avanços enchem os humanos de orgulho. Não satisfeitos de “construir a cidade”, decidem abrir a “porta do deus”, ou seja, erguer “uma torre cujo ápice penetre nos céus”. Aqui o relato expressa duas ambições: a de edificar uma montanha artificial (a torre), repositório da divindade, e a de “penetrar nos céus”, quebrar o limite entre o humano e o divino, o profano e o sagrado, a Terra e o Céu. Já não é a divindade que desce à Terra, é o ser humano que invade o Céu, graças à obra de suas mãos.
Antes que a soberba humana se inflasse ainda mais, Javé confundiu a linguagem dos habitantes de Babel e os dispersou. “Eles cessaram de construir a cidade.” Portanto, Babel não foi maldição. Foi dádiva. Delimitou a ambição humana e revelou ser obra de Deus a diversidade de pontos de vista e opiniões, contrária à identificação entre autoridade e verdade.
Toda essa sabedoria explica a arrogância decorrente, ainda hoje, de avanços científicos e tecnológicos. Queremos ser deuses. Nossa busca de endeusamento e imortalidade se reflete na babel ou confusão reinante em nossas cidades. Não pensamos no comunitário ou coletivo, pensamos no individual e no lucrativo.
Assim, nos gabamos de que o Brasil vendeu, em 2010, mais de 3 milhões de veículos automotores, embora isso agrave a congestão metropolitana, a poluição, os acidentes, pela impossibilidade de fiscalizar tantos veículos e abrir tantos espaços urbanos para que se locomovam e estacionem. Não se investe o suficiente em transportes coletivos, assim como não se planeja o espaço urbano, alvo de especulação imobiliária e vulnerável a fenômenos climáticos decorrentes de desequilíbrios ambientais, o que causa enchentes, desabamentos e secas prolongadas.
Hoje em dia, ganha cada vez mais espaço a proposta de bem viver dos povos indígenas andinos, conhecida como sumak kawsay. Sumak significa plenitude e kawsay viver. Não se trata de viver melhor ou viver cercado de conforto. Trata-se de viver em plenitude.
Plenitude implica fazer da felicidade um projeto comunitário, coletivo. É saber construir relações de solidariedade, não de competição; de harmonia, não de hostilidade; e estabelecer com a natureza vínculos de parceria cuidadosa.
Para a sociedade capitalista, a natureza é objeto de propriedade e temos o direito de explorá-la e até destruí-la em função de nossas ambições. O capitalismo se norteia pelo paradigma riqueza-pobreza, enquanto o sumak kawsay rompe esse dualismo para introduzir a de sociabilidade e de sustentabilidade, bases fundamentais de um projeto civilizatório. Fora disso, caminharemos para a barbárie.
sexta-feira, 20 de janeiro de 2012
Um Deus para ateus.
Por Leonardo Boff Em minha vida tenho encontrado muitos ateus. De vários me fiz amigo. Quase sempre concordo com eles, pois negam um Deus que eu também negaria porque não tem grandeza nem está à altura da busca humana. Por causa deles escrevi um livrinho que considero, pessoalmente, a melhor coisa que já perpretei na minha atribulada existência de teólogo:"Experimentar Deus: A transparência de todas as coisas" (Verus, Campinas 2002). Ai tento deconstruir a categoria Deus e depois reconstrui-la a partir daquelas experiências que permitem falar humana e emocionalmente de Deus, de um Deus que vale a pena e faz sentido. Mas há uma pré-condição: estar atento a sinais, por onde Deus chega, pois Ele nunca aparece sob o nome Deus. Os poetas e os místicos sabem disso. Por isso, em vez de eu falar, deixo que eles falem por mim. O primeiro é um indígena Cherokee e o segundo, um poeta indignado italiano, mas religioso, David Turoldo, conhecido meu. Vejamos, primeiro, o texto do indígena. Acena onde encontrar Deus. “Um homem sussurou: Deus, fale comigo! E um rouxinol começou a trinar. Mas o homem não prestou atenção. Voltou a perguntar: Deus, fale comigo! E um trovão reboou pelo espaço. Mas o homem não deu importância. Perguntou novamente: Deus , deixe-me vê-lo! E uma enorme lua brilhou no céu profundo. Mas o homem nem reparou. E, nervoso, começou a gritar: Deus, mostre-me um milagre! E eis que uma criança nasceu. Mas o homem não se debruçou sobre ela para admirar o milagre da vida. Desesperado, voltou a gritar: Deus, se você existe, me toque e me deixe sentir sua presença, aqui e agora. E uma borboleta pousou, suavemente, em seu ombro. Mas ele, irritado, a afastou com a mão. Desiludido e entre lágrimas, continuou seu caminho. Vagueando sem rumo. Sem nada mais perguntar. Só e cheio de medo" (Cf. JB Ecológico, junho 2002, pg.46). E agora o poeta italiano com quem me identifico: "Meu rmão ateu: Tu que, ansioso, buscas um Deus que eu não consigo te dar, Atravessemos, juntos, o deserto! De deserto em deserto Andemos para além de todas as florestas da fé, Livres e nus rumo ao Ser nu. E ali onde a palavra morre, Tenha fim também o nosso caminho" (Canti Ultimi, Garzanti 1993, pg. 205). E nesse fim, olhando para traz, percebemos que o caminho percorrido, era feito de cumplicidade, de enternecimento e de profundo sentimento de pertença ao Todo no qual estamos inseridos. Nunca estávamos sós. Uma Presença inefável nos acompanhava. Não será por isso que ardia nosso coração? Não seria o advento dEle, do sem Nome, do Nu, do Mistério que nos habita? Estavamos seguros que era Ele, porque já não tínhamos mais medo. Não seria esse um sentido possível do Natal para tempos pós-cristãos? |
quinta-feira, 19 de janeiro de 2012
A vida quer é coragem.
Publicado no Blog Balaio do Kotscho
Acabei de ler agora um dos melhores livros lançados no Brasil nestes últimos anos: A vida quer é coragem - A trajetória de Dilma Rousseff, a primeira presidenta do Brasil, escrito pelo jornalista Ricardo Batista Amaral e publicado pela Editora Sextante.
Recebi um exemplar em dezembro e automaticamente eu o coloquei na pilha de livros de amigos que deixo para ler nas férias. O problema é que tenho muitos amigos que escrevem muito e os dias de folga são poucos.
Confesso que não me animei muito a ler o livro de Amaral porque imaginava se tratar de uma história que já conhecia, sem muitas novidades. Fui convencido a lê-lo pelo próprio autor num almoço que tivemos no começo desta semana.
A insistência de Amaral tinha um motivo: foi por indicação minha que ele se tornou assessor de imprensa da então candidata Dilma Rousseff, primeiro na Casa Civil e depois na campanha presidencial. Por isso ele queria saber minha opinião sobre o livro.
Não pude aceitar o convite feito no começo de 2010 por Dilma, com quem havia trabalhado nos dois primeiros anos do governo Lula, para cuidar da área de imprensa na campanha que então começava. Ao terminar de ler o livro, acho que acertei ao indicar o velho amigo, um dos mais competentes e respeitados jornalistas de Brasília já faz muito anos.
Por ter vivido a companha por dentro do início ao fim, pensei que Amaral, mineiro como Dilma, se limitaria a contar bastidores da disputa eleitoral e contar como Dilma chegou lá.
Pois o livro é muito mais do que isto. Ao resgatar, desde a infância, a história da menina de alta classe média de Belo Horizonte, mostrando como era a vida na cidade e no país no começo da segunda metade do século passado, e as circunstâncias políticas que a levaram à clandestinidade e à prisão ao se engajar em organizações de esquerda que lutavam contra a ditadura militar, Amaral escreveu o romance da vida real de uma época.
Como está no título, a travessia de Dilma, da tortura nos porões do DOI-CODI à vitória nas eleições presidenciais de 2010, é acima de tudo uma história de coragem e de superação das dificuldades, em que a nossa presidente se torna o personagem-símbolo de toda uma geração de brasileiros à qual pertenço.
O melhor resumo desta história de quatro décadas, da ditadura à democracia, é uma foto em preto e branco de Dilma, aos 21 anos, tirada em novembro de 1970, durante um interrogatório na Auditoria Militar, no Rio, após ter sido torturada durante 22 dias seguidos.
De cabelos curtos, corpo ereto na cadeira do réu, olhar altivo, não vê a vergonha dos seus interrogadores que escondem o rosto com as mãos. Está na contra-capa do livro, mas deveria ter saído na capa.
Com tantos ingredientes dramáticos, Ricardo Amaral escapou da tentação de tratar sua personagem como heroína, retratando-a apenas como uma cidadã brasileira que teve um destino incomum, sem cair na pieguice ou na louvação, alternando as conquistas, os sofrimentos, os acertos e os erros na vida dela até chegar ao Palácio do Planalto.
A perda do pai aos 15 anos, os amores e desamores na época da clandestinidade, a vida na prisão com outras mulheres torturadas que a reencontrariam na festa da posse no dia 1º de janeiro do ano passado, a luta contra o câncer no ínicio da campanha eleitoral, a "guerra santa" deflagrada por seu adversário no final do primeiro turno da campanha e que quase lhe custou a vitória, o triste papel da grande imprensa partidária, a sólida aliança política e afetiva com Lula, o primeiro presidente operário que elegeu na sua sucessão a primeira mulher _ está tudo lá neste brilhante livro-reportagem de quem testemunhou boa parte da recente história política do país.
Acima de tudo, trata-se de um livro muito bem escrito, coisa rara no jornalismo atual, com uma narativa que amarra o leitor da primeira à última linha, mesmo aqueles que já conhecem parte da história. Posso dizer que o livro me ajudou a conhecer melhor a presidente Dilma e o valor que ela dá à lealdade, mesmo correndo risco de vida _ e por isso a admiro ainda mais.
Este é um livro (são 304 páginas que valem os R$ 39,90 cobrados) que eu gostaria de ter escrito. Não o deixem de ler. É uma história muito bonita que foi muito bem contada. Valeu, xará.
Reproduzo abaixo o parágrafo final do livro para vocês terem uma ideia do que escrevi acima:
Fácil, para ela, nunca foi. Dilma teve de superar todos os desafios que a vida colocou diante dela ao longo do caminho: a condição feminina numa sociedade machista, a militância na clandestinidade, a tortura, a cadeia, a luta tantas vezes áspera pela democracia, o desafio de participar do primeiro governo dirigido por um trabalhador no Brasil, a superação do câncer e uma campanha eleitoral duríssima, em que a candidata estreante enfrentou um dos mais experientes políticos do país. A chave para entender esta trajetória talvez esteja na citação do escritor João Guimarães Rosa, que Dilma escolheu para seu discurso de posse, em 1º de janeiro. No romance "Grande Sertão: Veredas", ela foi buscar o seguinte trecho:
"O correr da vida embaralha tudo, a vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem".
segunda-feira, 9 de janeiro de 2012
O voo da Fênix
Por João Rocha
A crença da Fênix, uma ave lendária, existiu em vários povos da antiguidade, como gregos, egipcios e chineses. Segundo a mitologia,, quando morria, entrava em auto combustão e, passado algum tempo, renascia e alçava voo das própias cinzas. Em todas as mitologias o significado é preservado: a perpetuação, a ressurreição, sem nunca ter fim.
Tem certos políticos que se acham perpétuos como a Fênix, não percebem que políticos também tem prazo de validade e tentam a ressureição.
Ao longo da caminhada, vi, li e ouvi sobre políticos que tentaram renascer das cinzas. Poucos conseguiram.
Em Caraguatatuba, em 2008, tivemos alguns exemplos de políticos que tentaram, mas não alçaram voo. Para 2012, provavelmente haverão novas tentativas . Vamos aguardar.
Obs: tem gente nova buscando espaço.
sábado, 7 de janeiro de 2012
Os Desinformadores de opinião.
Estranho, alguns blogs da cidade que fazem enquetes e se auto proclamam transparentes ou tiram os mesmos de circulação quando percebem que o resultado não os agradam ou mudam na maior naturalidade o resultado dos mesmos. Quanta credibilidade hein, se dizem formadores de opinião. O povo não é bobo não....estamos de olho.
sexta-feira, 6 de janeiro de 2012
SOLUÇÃO TUCANA PARA O CRACK: TROCAR O ENDEREÇO DO INFERNO
Fonte: Carta Maior
"Você prefere tratar um câncer localizado? Ou com ele espalhado por todo o corpo? É isso o que estamos fazendo: espalhando o câncer". (frase de um policial mobilizado pela dupla Kassab/Alckmin em mais uma 'operação definitiva' contra a Cracolândia, em SP; repressão a usuários da droga concentrados na região da Luz gera fuga para outros bairros e ruas adjacentes da capital. Folha de SP;05-01. Em 2009, Carta Maior publicou um ensaio fotográfico sobre o desafio da Cracolândia, abordando os dois lados do problema --o dos moradores e o dos usuários; a dupla Serra & Kassab então, prometia resolver 'de vez' o problema.
quinta-feira, 5 de janeiro de 2012
terça-feira, 3 de janeiro de 2012
Um conto de Natal.
Por Mauro Santayana
Este deve ser o conto de natal de nossos tempos. Os dois meninos foram catar material reciclável no lixão de Campo Grande, capital do Mato Grosso do Sul. Uma das máquinas empurrou a massa de detritos, para fazer espaço – e os soterrou. Um deles, mais ágil, conseguiu escapar. Maikon Correa de Andrade, de nove anos, ficou sob o lixo, e seu corpo foi encontrado muitas horas depois pelos bombeiros.
Maikon deve ser um dos milhares de máicons que receberam esse nome em homenagem a Michael Jakson, porque é assim que alguns ouvidos registram o nome do ídolo. Um dia, a mãe de Maikon deve ter sonhado destino de riqueza e de glória para o filho, e, nessa esperança, dado ao recém-nascido o nome de uma estrela. Maikon não sabia cantar, não sabia dançar – e talvez nem soubesse catar alguma coisa que prestasse no meio do lixo. Ele poderia ter pisado em uma agulha de seringa e se ter contaminado de alguma doença fatal, como já ocorreu a muitos. Mas poderia ter encontrado alguma coisa ainda precariamente servível, como um brinquedo jogado fora. Ou, apenas, teria recolhido restos de metal, fios de cobre, coisas de estanho e chumbo, para serem vendidos a intermediários, e destinados à reciclagem. Se Maikon conseguiu alguma coisa, não a tinha em suas mãos, rijas depois de tantas horas já mortas.
A morte de Maikon é um conto de Natal, sem a ternura dos relatos de Dickens ou de Mark Twain – mas é também a parábola negra do novo liberalismo triunfante. Somos uma sociedade que se dedica a produzir lixo.
As mercadorias que chegam ao mercado são, quase todas elas, lixo. Começamos com a embalagem – e essa civilização pode ser considerada a “civilização da embalagem” – tanto mais inútil quanto mais sofisticada. A essência da mercadologia – ou do marketing, se preferirmos – é a embalagem, trate-se de manteiga ou de candidatos a cargos eletivos; trate-se de hospitais ou de calistas. Todos os produtos, que a embalagem embeleza, são também lixo em sursis: concebidos para durar pouco. A idéia da reciclagem, fora a dos metais, é recente. Trata-se de um escamoteio da consciência, a de que o meio ambiente pode ser preservado com esse expediente esperto do capitalismo.
O mundo produziria menos lixo, se a idéia do lucro não prevalecesse sobre a idéia da vida. Assim, é o próprio capitalismo, em sua essência, que deve ser discutido. A mesma desrazão que produz o lixo material, produz o que sua lógica considera o lixo humano – os seres descartáveis que o senso estético e prático burguês rejeita. Os pobres são seres instrumentais, como as ferramentas que enferrujam, e, uma vez sem serventia, pelo uso e pelo tempo, devem ser jogadas fora. Sua reciclagem se faz nos filhos, que podem ser usados.
Maikon foi sepultado no lixo em que buscava a sobrevivência antes que cumprisse o destino do pai e, provavelmente, do avô. Morrendo tão cedo, frustrou o destino que provavelmente o esperava. Nada mais natural que Maikon, que morava em um bairro miserável de Campo Grande – ironicamente batizado com o nome do primeiro bispo e arcebispo da cidade, Dom Antonio Barbosa – se misturasse, aos nove anos, com os resíduos dos bairros ricos.
Mas, e se Maikon não tivesse ido ao lixão nesses dias entre o Natal e o Ano Novo, quando há presépios toscos mesmo nas casas pobres, e quando se celebra a vinda de Cristo e o início de mais uma volta da Terra em torno do Sol – o que poderia ocorrer em seu futuro? Como outros meninos, não muitos, mas alguns, ele talvez viesse a driblar o destino, crescer e deixar uma forte presença no mundo. Não era de se esperar - mesmo com a tentativa desnecessária dos evangelistas em lhe conferir progênie divina e ancestralidade nobre - que aquele menino nascido em uma gruta de Belém, viesse a dividir o mundo em duas eras. Afinal, ele, nascido na estrada, era de Nazaré – e se dizia, em seu tempo, que de Nazaré nada chegava de bom a Jerusalém.
Mesmo com o estranho nome de Maikon, o menino de Campo Grande era ainda um enigma, quando morreu sufocado pela sujeira da cidade rica.
Toda criança encerra, em si mesma, a dialética do futuro. Maikon poderia vir a ser um traficante de fronteira, ou um grande homem, nas artes ou na ciência. É nesse profundo mistério que se sepultou seu destino. O corpo, resgatado do lixo, voltou ao barro de que todos nós viemos, ricos e pobres, orgulhosos uns, humilhados outros.
Maikon deve ser um dos milhares de máicons que receberam esse nome em homenagem a Michael Jakson, porque é assim que alguns ouvidos registram o nome do ídolo. Um dia, a mãe de Maikon deve ter sonhado destino de riqueza e de glória para o filho, e, nessa esperança, dado ao recém-nascido o nome de uma estrela. Maikon não sabia cantar, não sabia dançar – e talvez nem soubesse catar alguma coisa que prestasse no meio do lixo. Ele poderia ter pisado em uma agulha de seringa e se ter contaminado de alguma doença fatal, como já ocorreu a muitos. Mas poderia ter encontrado alguma coisa ainda precariamente servível, como um brinquedo jogado fora. Ou, apenas, teria recolhido restos de metal, fios de cobre, coisas de estanho e chumbo, para serem vendidos a intermediários, e destinados à reciclagem. Se Maikon conseguiu alguma coisa, não a tinha em suas mãos, rijas depois de tantas horas já mortas.
A morte de Maikon é um conto de Natal, sem a ternura dos relatos de Dickens ou de Mark Twain – mas é também a parábola negra do novo liberalismo triunfante. Somos uma sociedade que se dedica a produzir lixo.
As mercadorias que chegam ao mercado são, quase todas elas, lixo. Começamos com a embalagem – e essa civilização pode ser considerada a “civilização da embalagem” – tanto mais inútil quanto mais sofisticada. A essência da mercadologia – ou do marketing, se preferirmos – é a embalagem, trate-se de manteiga ou de candidatos a cargos eletivos; trate-se de hospitais ou de calistas. Todos os produtos, que a embalagem embeleza, são também lixo em sursis: concebidos para durar pouco. A idéia da reciclagem, fora a dos metais, é recente. Trata-se de um escamoteio da consciência, a de que o meio ambiente pode ser preservado com esse expediente esperto do capitalismo.
O mundo produziria menos lixo, se a idéia do lucro não prevalecesse sobre a idéia da vida. Assim, é o próprio capitalismo, em sua essência, que deve ser discutido. A mesma desrazão que produz o lixo material, produz o que sua lógica considera o lixo humano – os seres descartáveis que o senso estético e prático burguês rejeita. Os pobres são seres instrumentais, como as ferramentas que enferrujam, e, uma vez sem serventia, pelo uso e pelo tempo, devem ser jogadas fora. Sua reciclagem se faz nos filhos, que podem ser usados.
Maikon foi sepultado no lixo em que buscava a sobrevivência antes que cumprisse o destino do pai e, provavelmente, do avô. Morrendo tão cedo, frustrou o destino que provavelmente o esperava. Nada mais natural que Maikon, que morava em um bairro miserável de Campo Grande – ironicamente batizado com o nome do primeiro bispo e arcebispo da cidade, Dom Antonio Barbosa – se misturasse, aos nove anos, com os resíduos dos bairros ricos.
Mas, e se Maikon não tivesse ido ao lixão nesses dias entre o Natal e o Ano Novo, quando há presépios toscos mesmo nas casas pobres, e quando se celebra a vinda de Cristo e o início de mais uma volta da Terra em torno do Sol – o que poderia ocorrer em seu futuro? Como outros meninos, não muitos, mas alguns, ele talvez viesse a driblar o destino, crescer e deixar uma forte presença no mundo. Não era de se esperar - mesmo com a tentativa desnecessária dos evangelistas em lhe conferir progênie divina e ancestralidade nobre - que aquele menino nascido em uma gruta de Belém, viesse a dividir o mundo em duas eras. Afinal, ele, nascido na estrada, era de Nazaré – e se dizia, em seu tempo, que de Nazaré nada chegava de bom a Jerusalém.
Mesmo com o estranho nome de Maikon, o menino de Campo Grande era ainda um enigma, quando morreu sufocado pela sujeira da cidade rica.
Toda criança encerra, em si mesma, a dialética do futuro. Maikon poderia vir a ser um traficante de fronteira, ou um grande homem, nas artes ou na ciência. É nesse profundo mistério que se sepultou seu destino. O corpo, resgatado do lixo, voltou ao barro de que todos nós viemos, ricos e pobres, orgulhosos uns, humilhados outros.
Mauro Santayana é colunista político do Jornal do Brasil, diário de que foi correspondente na Europa (1968 a 1973). Foi redator-secretário da Ultima Hora (1959), e trabalhou nos principais jornais brasileiros, entre eles, a Folha de S. Paulo (1976
quinta-feira, 29 de dezembro de 2011
2011/2012: AQUILO QUE NOS DEVORA
Por Carta Maior.
Em 12 meses até novembro, R$ 137,6 bilhões em receitas fiscais foram desviados de projetos prementes na área social e de infraestrutura e canalizados ao pagamento de juros da dívida pública brasileira. O valor equivale a 3,34% do PIB previsto para 2011. Não é tudo; a despesa efetiva com os rentistas é bem maior. A economia feita pelas três esferas de governo até agora, mais as estatais, cobre apenas uma parte do serviço devido, da ordem de R$ 240 bilhões este ano, sendo o restante incorporado ao saldo principal, elevando-o. Em 2011, essa 'capitalização' (deles) acrescentará R$ 110 bilhões à dívida, totalizando o equivalente a 5,6% do PIB em juros. A sangria se consuma no orçamento federal que em 2012 destinará 47,2% do total, ou seja, mais de R$ 1 trilhão, ao pagamento de juros e amortizações da dívida pública. Consolida-se assim um caso clássico de captura do Estado pela lógica da servidão rentista na qual quanto mais se paga, mais se deve. Em dezembro de 2009 a dívida interna pública era de R$ 1,39 trilhão; em dezembro de 2010 havia saltado para R$ 1,6 trilhão; em 2011 deve passar de R$ 1,7 trilhão. De janeiro a novembro ela cresceu R$ 148,67 bilhões. O valor é R$ 53,5 bilhões superior ao total dos investimentos realizados no período pela União e o conjunto das 73 estatais brasileiras, que cairam 3,2% em relação a 2010. É tristemente forçoso lembrar que enquanto a despesa com os rentistas esfarela 5,6% do PIB em juros, o orçamento federal para a saúde em 2012 será da ordem de R$ 90 bilhões (uns 3,5% do PIB); o SUS terá R$ 80 bilhões para atender 146 milhões de pessoas. E o valor aplicado numa área crucial como a educação gira em torno de 3% do PIB. Discute-se se há 'margem' fiscal para elevar isso a 7% ou 8% --em uma década. Visto à distancia, o naufrágio europeu permite enxergar melhor o absurdo que consiste em colocar o Estado e a sociedade a serviço das finanças e não o contrário. Sem uma política corajosa de corte na ração rentista o Brasil cruzará décadas apagando incêndios no combate à pobreza e a miséria que enredam a vida de 27% da população e às deficiências de infraestrutura social e logística. É melhor que a regressividade demotucana. Mas insuficiente para embalar a travessia histórica da injustiça e do subdesenvolvido para uma Nação rica,compartilhada por todos.
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